O Renascer da Fenix: Pedaços de Vidas Reais (parte I)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Pedaços de Vidas Reais (parte I)

A vida era no mato…
O clima era de guerra…
Os homens, como sempre incumbidos de proteger as mulheres e as crianças, combinavam e definiam estratégias de defesa e dissimulação…
As mulheres seguiam as suas vidas e fingiam que nada se passava…
As crianças mais pequenas brincavam inconscientes do perigo…, as mais crescidas iam sendo alertadas e treinadas em técnicas de escape e defesa…
Mas a vida era boa, tão boa quanto alguém podia desejar nos anos 60…
Certo dia aconteceu…, foi assassinado um homem!
Encontrado morto na casa que lhe havia sido atribuída na véspera.
Nem chegou a iniciar o trabalho no seu novo emprego.
Soou o alerta…
Mulheres e crianças evacuadas de avião e postas em segurança na cidade mais próxima…
Homens reunidos, à noite, em casas seguras, quais fortes de guerra!
Ficou para trás uma mulher…, que, por esperar um filho para o mês seguinte e não conhecer ninguém na cidade, foi transportada de carro por picadas, tão depressa quanto o carro do marido o permitia, ao longo de 110Km, até à vila mais próxima…
Aí sim, conhecia pessoas que a acolheriam como uma filha!
Mas, o resultado, o filho que esperava para o mês seguinte, nasceu no dia seguinte, 21-01-1965!
E não era filho, era filha!

10 comentários:

A. João Soares disse...: 110 Km por picada, resultara no previsível. Um mês de antecedência não é demasiado, mas em ambiente pouco dotado de meios, deve ter sido um susto e uma preocupação sobre a sobrevivência da bebé. Pela forma como o relato está sendo feito, tudo deve ter corrido bem e a senhora, hoje com perto de 50, deve ter levado uma vida com saúde e espírito de luta.
Um abraço
A. João Soares; 17 de janeiro de 2009 às 11:53
Lita disse...: Quero mais... :); 17 de janeiro de 2009 às 12:01
Fenix disse...: A. João Soares,
Na verdade foram apenas 15 dias de antecedência e nasceu em maternidade, apesar de tudo.
Para além disso, a mãe, estava acompanhada de bons amigos e o marido voltou a fazer a picada, novamente a grande velocidade, chamado pela rádio, porque telefones não havia…
Sim, a bebé, agora mulher que faz 44 anos na próxima 4ª-feira, nasceu forte e saudável. Cresceu feliz, pelo menos durante alguns anos e tem um grande espírito de luta. Nunca desiste embora às vezes sofra muito.
Abraço
Fenix
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Lita,
:-)))
Obrigada!
Assim que possa…
Beijinhos
Fenix; 17 de janeiro de 2009 às 12:12
Paula Raposo disse...: Gostei de ler a história na 1ª pessoa, deduzo. Obrigada pela partilha. Beijos.; 17 de janeiro de 2009 às 17:26
Unknown disse...: Amiguita Fenix,
será que a mulher desta história é também a escritora?

Beijinhos; 18 de janeiro de 2009 às 01:56
mfc disse...: Parabéns por este dia... e que faças muitos mais.
Toma um grande beijinho, que és uma Amiga sincera.; 18 de janeiro de 2009 às 16:34
Fenix disse...: Paula Raposo,
Sim, na 1ª pessoa.
Pode ser que nasça daqui uma auto-biografia…
Beijinhos
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Ana Martins,
Amiga,
Sim, é quem a escreveu.
Quanto a ser escritora é que tenho dúvidas…
Acho que não mereço o epíteto.
Beijinhos
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mfc,
:-)))
Aceito os parabéns pelo dia em que escrevi, em que decidi iniciar uma espécie de auto-biografia. Não foi fácil começar e ainda não sei como nem por onde continuar…, logo se vê…
Quanto ao resto…, ainda não chegou o dia…
Beijinho recebido
Outro para ti
Fenix; 19 de janeiro de 2009 às 01:48
lélé disse...: Também gostei muito deste início de auto biografia!...
Pela maneira como me fizeste lembrar um grande amigo meu, quase posso adivinhar em que país (na altura ainda não o era) se passou!...
O dia 21 pode ser uma referência, mas os parabéns devem ser quotidianos, portanto, parabéns, Fenix...; 19 de janeiro de 2009 às 03:17
Devaneante disse...: Sem dúvida uma chegada atribulada...; 19 de janeiro de 2009 às 03:20
Fenix disse...: lélé,
Obrigada!
Por tudo, pelos parabéns quotidianos e por teres gostado do texto.
Ainda bem que te fiz lembrar um grande amigo.
É sempre bom lembrarmos os amigos, especialmente os grandes amigos!
É reconfortante!
Beijinhos
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Devaneante,
Atribulada é mesmo a melhor palavra para adjectivar não só a chegada como a caminhada subsequente…, pelo menos até agora!
É caso para dizer: “Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita”
:-)))

Abraço
Fenix; 21 de janeiro de 2009 às 00:16

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Aqui já em baixo está a lista de todas as mensagens deste blogue agrupada por temas. Para quem gosta do que vou escrevendo em verso têm os Versos meus (com rima) e os Versos meus (sem rima). Para quem queira saber mais acerca de mim tem os Pedaços de Vidas Reais , etc.

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Homenagem a

Alexandre O’Neill

«Mesa dos sonhos»

Ao lado do homem vou crescendo
Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente
Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo
E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.

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Eça de Queirós

em "As Farpas" 1871

O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!"

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Fernando Pessoa

ANÁLISE

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Fernando Pessoa, 12-1911

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Nem Sempre Sou Igual

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos

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Luis Vaz de Camões

Amor é...

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?